Há dois meses, o Amazonas enfrenta uma preocupante persistência na nuvem de fumaça decorrente das inúmeras queimadas, levando a população a retomar o uso de máscaras como medida de proteção. De acordo com o Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), a qualidade do ar atingiu sucessivos recordes negativos, gerando pressão sobre os governos local e federal para a implementação de ações mais efetivas no combate aos incêndios que assolam a floresta.
A estudante Raely Cardoso, asmática, relata dificuldades enfrentadas durante suas viagens pela rodovia AM-070, destacando crises de saúde causadas pela densa fumaça. A situação se tornou tão crítica que até mesmo profissionais como o psicólogo esportivo Matheus Vasconcelos, que trabalha com atletas ao ar livre, têm sentido os impactos da fumaça em sua rotina de trabalho.
Profissionais de saúde, como a médica pneumologista Joyce Matsuda, observam um aumento significativo nos atendimentos relacionados a doenças respiratórias. Pacientes que antes mantinham condições controladas, como asmáticos, agora enfrentam crises, indicando uma clara correlação entre a intensificação da fumaça e problemas de saúde na população.
Outro médico pneumologista, Daniel Luniere, alerta para os riscos da exposição prolongada à fumaça das queimadas. Tosse, desconforto torácico, falta de ar e irritação na garganta são sintomas comuns, e a irritação se estende aos olhos, com lacrimejamento, vermelhidão e coceira.
Em outubro, o Amazonas registrou um recorde alarmante de 3.858 focos de incêndio, a pior marca desde 1998, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). As áreas mais afetadas situam-se nos municípios de Careiro e Autazes, na região metropolitana de Manaus, e no sul do estado, conhecido como ‘Arco do Fogo’, próximo à divisa com Acre, Rondônia e Pará.
O governo do Amazonas atribui parte da fumaça proveniente de queimadas no Pará, evidenciando a abrangência e o impacto regional das queimadas. Esforços conjuntos do governo estadual, Ibama e ICMBio envolvem 270 brigadistas em bases avançadas nos municípios afetados.
Diante dessa crise ambiental, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, transferiu parte da responsabilidade para o Congresso Nacional, instando a aprovação urgente do Projeto de Lei 1.818/2022, que propõe a criação da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo. Essa legislação visa disciplinar o uso do fogo no meio rural, substituindo gradualmente por outras técnicas e criando instâncias intergovernamentais para gerenciar respostas a incêndios em vegetações. A proposta busca evitar situações críticas como a atual, reforçando a necessidade de medidas preventivas e de enfrentamento a longo prazo.