O índice Ibovespa fechou em forte queda de 2,15%, atingindo 116.145 pontos, após mais um corte na taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Contrariando a tendência usual, o mercado brasileiro reagiu negativamente ao corte de 50 pontos-base na taxa básica de juros, que agora está em 12,75%. A surpreendente reação foi atribuída, em grande parte, às ações do Federal Reserve dos Estados Unidos.
Tradicionalmente, um corte de juros pela autoridade monetária é visto como positivo para a Bolsa brasileira, incentivando o fluxo de saída de investimentos da renda fixa para ativos de maior risco, impulsionando faturamentos e financiamentos das empresas e reduzindo o custo das dívidas corporativas. No entanto, o mercado reagiu de maneira contrária desta vez, devido ao comunicado “hawkish” do Federal Reserve.
O Fed, que manteve a faixa da taxa de juros entre 5,25% e 5,50% em sua última reunião, adotou um tom mais duro em seu comunicado, sinalizando a possibilidade de um novo aumento de 25 pontos-base ainda este ano e indicando que não prevê redução das taxas em 2024. Essa postura teve impactos imediatos nos ativos brasileiros.
Luis Garcia, CIO da SulAmerica Investimentos, observou que a decisão do Fed teve um efeito contaminante sobre os ativos brasileiros, criando aversão ao risco. A curva de juros dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos aumentou, levando a uma valorização do dólar e queda nas bolsas.
Os treasuries yields de dez anos subiram 14,1 pontos-base, atingindo 4,488%, e os de dois anos avançaram 2,4 pontos, para 5,14%. Isso resultou em um aumento de fluxo de capital para os Estados Unidos, impulsionando o DXY (que mede a força do dólar em relação a outras moedas desenvolvidas) em 0,23%, atingindo 105,37 pontos. O real brasileiro também foi afetado, registrando uma alta de 1,13% em relação ao dólar.
As taxas de juros futuras no Brasil acompanharam as tendências dos EUA, apesar do corte na Selic. Os DIs para 2024 permaneceram em 12,25%, enquanto os para 2025 e 2027 subiram quatro e 5,5 pontos-base, para 10,57% e 10,53%, respectivamente. Os contratos para 2029 e 2031 também registraram ganhos, de sete pontos cada, chegando a 11,06% e 11,36%, respectivamente.
Alan Martins, analista da Nova Futura Investimentos, comentou que a sinalização do Fed afastou a possibilidade de um corte mais agressivo da Selic pelo Banco Central brasileiro. Fernando Ferreira, estrategista da XP, destacou a preocupação com a alta do petróleo, que aumenta os riscos inflacionários e a possibilidade de novos aumentos nas taxas de juros.
Entre as ações com as maiores quedas no Ibovespa, destacaram-se empresas ligadas ao mercado interno, como Grupo Soma (SOMA3), MRV (MRVE3) e CVC (CVCB3), que perderam 6,71%, 4,83% e 5,42%, respectivamente. Magazine Luiza (MGLU3) e Grupo Casas Bahia (BHIA3) também registraram queda, de 6,75% e 1,33%, respectivamente.
A reação negativa do mercado brasileiro às decisões monetárias, tanto locais quanto internacionais, destaca a sensibilidade da Bolsa brasileira às políticas do Federal Reserve e à aversão ao risco global.